terça-feira, 15 de setembro de 2015

Aldeia onde criar é amor.














“Foi amor à primeira vista!”, assim desabafou Celeste Vasconcelos, 57 anos, natural de Cinfães, Guarda, quando se recorda do primeiro encontro que teve com os meninos da Aldeia de Crianças SOS. Foi há 25 anos, tinha ela então 32, acabada de sair de casa dos pais, e “sem experiência nenhuma em lidar com crianças”. “De repente, vi-me com oito pequenitos, com idades seguidas (quatro, cinco, seis, sete e oito anos). Cabiam todos debaixo de um gigo e quando ali me vi com eles, pensei: isto agora é só comigo!”. Celeste, a par de outras quatro mulheres, é uma das “mães sociais” a tempo inteiro que cuida e ensina o mapa dos afetos (porque criar é amar) a 29 crianças e jovens da Aldeia de Crianças SOS de Gulpilhares (Gaia), que hoje completa 35 anos de existência. Mas são precisas mais mulheres com esta disponibilidade... Pelas mãos de Celeste já passaram mais de duas dezenas de crianças, o suficiente para hoje, sem nunca ter tido os próprios filhos, já “ter direito a netos”. “Tenho a minha família verdadeira e depois esta, mas no fundo acaba tudo por ser a mesma coisa”, desabafa a mãe de coração, que atualmente tem a seu cargo quatro rapazes: de 8, 11, 14 e 15 anos. Carlos Veiga, 37 anos, já foi um deles e confessou, ao JN, que “foi a melhor coisa” que lhe aconteceu na vida. “Cheguei com oito anos, com os meus três irmãos, vindos de uma aldeia e, mesmo sendo muita gente, a mãe Celeste nunca deixou de dar-nos carinho”, referiu Carlos, sublinhando que ali sentiu “muita segurança e proteção”. Tanto que “todas as semanas” faz questão de visitar a mãe e partilhar as novidades dos seus filhos, “netos dela”. Daí que Carlos não tenha dúvidas em afirmar que o melhor que levou dos anos que passou na instituição foi “os afetos”. “Quando vim para aqui, tinha perdido os meus pais e o meu avô, mas ganhei 70 novos elementos na família”, sublinhou. Há falta de “mães sociais” Laços que se mantêm até hoje e que são a maior referência de quem, chegado à idade adulta, abandona a Aldeia de Crianças SOS de Gulpilhares. Espaço agora composto por cinco casas e um lar para jovens onde aprendem a viver com mais autonomia. Todavia, para Rui Dantas, diretor da instituição, era “essencial” voltar a recrutarem “mais senhoras disponíveis para assumirem o papel de ‘mãe social’”. E explicou: “A Aldeia tem mais casas, que se encontram atualmente vazias, por falta de mães. Era importante podermos voltar a abri-las, porque temos capacidade para receber até 40 crianças e só temos 29”. Do mesmo modo, o diretor lembrou a importância “dos donativos e de novas parcerias” na instituição que não tem fins lucrativos.


Por

Marta Neves

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