segunda-feira, 4 de novembro de 2019

“Derrubámos o muro na nossa aldeia, mas a extrema-direita está a levantar outro”











































Até há 30 anos, Moedlareuth esteve dividida pelo muro que separava as duas Alemanhas. Agora, metade da povoação pertence a uma comuna próspera da Baviera e a outra a um dos mais empobrecidos distritos da Turíngia. Aqui, a extrema-direita ganhou as Europeias e é favorita às regionais do próximo domingo. O sobressalto alemão, visto de uma aldeia com 50 almas.

Holger Schlutz tem 50 anos e garante não ser homem de choro fácil, em toda a sua sua vida adulta só se desmanchou em lágrimas duas vezes. “A primeira foi há trinta anos, quando o muro veio finalmente abaixo. A outra foi agora no início de outubro.” Modlareuth, aldeia de 50 habitantes no leste do país, esteve até 1989 dividida a meio – 30 almas viviam na comunista República Democrática Alemã, 20 na capitalista República Federal Alemã e, no meio, havia uma parede branca com três metros de altura. Uma pequeníssima Berlim no meio de nenhures.
Mesmo que as fronteiras se tenham esfumado há três décadas, a aldeia permaneceu sempre dividida. Hoje, metade pertence à comuna de Tolsen, na região ocidental da Baviera, outra metade ao município de Gefell, na oriental Turíngia. Os habitantes da povoação têm códigos postais, indicativos telefónicos e inscrevem os filhos em escolas diferentes. Os que vivem do lado da Baviera moram num dos mais dinâmicos distritos do país rural. Os que estão na Turíngia num dos mais deprimidos territórios alemães.

Uma das poucas coisas que é comum aos dois lados é o pão que consomem. E esse é preparado diariamente por Holger. A padaria Schlutz tem 250 anos de história e ele representa a nona geração da família a assumir o comando do forno. “O testemunho passou sempre de pai para filho, e um dia será a vez de o meu rapaz assumir a tarefa.” Quando começou a trabalhar, ainda havia duas Alemanhas e Holger só distribuía pão na Modlareuth ocidental, no seu lado da Cortina de Ferro. Mas, na noite de 8 para 9 de novembro de 1989, um amigo telefonou-lhe de Berlim e anunciou o que toda a gente desconfiava: o muro ia cair em breve. “Por instinto dupliquei a produção. Na noite seguinte, pela primeira vez na minha vida, pude dar pão a quem estava do outro lado.”

 Foi uma explosão de alegria. Enquanto o mundo inteiro olhava para a capital, aqui a festa fez-se sem holofotes. Irmãos separados há 40 anos abraçavam-se, de todo o lado apareciam garrafas de espumante, Holger oferecia roscas e pretzels e “as pessoas choravam e dançavam de alegria. Toda a gente, mesmo os guardas da fronteira.” Num meio tão acanhado, não havia quem não tivesse alguém do outro lado. Agora as portas abriam-se e o padeiro ainda se emociona. “A conquista da liberdade é o maior espetáculo do mundo.”
  Uma parte do muro foi preservada, tal como as instalações militares e uma porção da vedação. Constituem hoje o Museu Alemão-Alemão de Modlareuth, que é visitado anualmente por 70 mil pessoas. E todos os anos, a 3 de outubro, população e autoridades locais juntam-se nas margens do ribeiro de Tannbach e atravessam-no com um salto para celebrarem o Dia da Reunificação Alemã. “Ninguém quer esquecer o que aconteceu, para que não se volte a repetir.”

Só que, este ano, ao mesmo tempo que decorriam as cerimónias oficiais, o partido de extrema-direita AfD – Alternativa para a Alemanha convocou uma manifestação no centro de Modlareuth. “Eram umas 200 a 300 pessoas vindas sobretudo do Leste, que não tinham vindo celebrar a reunificacão, antes protestavam contra os seus falhanços.” Todos aqui concordam que a Alemanha corre a duas velocidades e toda a gente sabe que a direita ultranacionalista está a crescer nos terrenos que antes eram de influência soviética. O que Holger nunca pensava voltar a ver 30 anos depois era isto: um dispositivo policial irromper pela povoação, grades de ferro a conter pessoas, ódio de um lado do ribeiro contra o outro. Foi então que se escangalhou a chorar.

É sábado de manhã e o mercado de rua de Bad Lowenstein, um vilarejo perto de Modlareuth, foi tomado pela campanha eleitoral – domingo, 27, há regionais na Turíngia, onde a extrema-direita espera um resultado histórico. Todos os partidos montaram a sua pequena banca na rua principal da feira, exceto a AfD, que decidiu instalar-se longe de todos os outros, no fundo da praça. “Somos uma alternativa para o estado atual das coisas”, diz Uwe Thrum, o cabeça de lista neste distrito. “Porque raio nos haveríamos de misturar com os outros partidos?”
Thrum vai fazendo o seu discurso a quem o quer ouvir e a campanha da extrema-direita aposta, nas suas próprias palavras, em três vetores essenciais: “a rejeição dos partidos tradicionais por não terem conseguido unificar economicamente a Alemanha, a proteção das populações locais contra a chegada de estrangeiros e a recuperação dos valores da família tradicional.” Quando as coisas começam a tornar-se pessoais ele puxa dos galões: “Não sou político profissional, sou mestre carpinteiro. Só me meti nisto porque já não suportava ver o meu país ser tomado por um bando de corruptos.”

Algumas pessoas desviam-se e recusam receber qualquer propaganda, mas a verdade é que aqui que a AfD mais cresce. No distrito de Saale-Orla, a que pertence a metade leste de Modlareuth, a extrema-direita venceu as últimas europeias, com 27,1 por cento dos votos. E agora está a disputar taco a taco a primeira posição nas regionais. A semana passada, o site norte-americano Politico juntou todos os dados das sondagens para estabelecer as posições dos partidos na corrida ao parlamento regional da Turíngia. A AfD sobe de 10,6 para 24 por cento, passando de quarta para segunda força política. Em distritos como Saale-Orla, é expectável que ultrapasse o Die Linke (A Esquerda), que tem 28 por cento nas pesquisas em todo o estado.
Klaus Moller, cabeça de lista pelo Die Linke no mesmo distrito, admite que está assustado. “O líder da AfD na Turíngia não é nada menos que um fascista, a sua eleição seria o maior retrocesso civilizacional depois de Hitler.” De facto, Bjorn Hocke está conotado com a direita mais radical no partido – e sobre ele recaem constantes suspeitas de xenofobia e antissemitismo. Nesta ação de campanha numa vila esquecida da Alemanha, no entanto, isso parece não importar assim tanto. Estão lá dois rapazes de cabelo rapado a distribuir panfletos, é verdade, mas também está Lucas Harnut, que ao peito usa uma estrela de David.

“O meu avô era judeu de Konningsberg [a atual Kaliningrado russa], passou toda a II Guerra Mundial a fugir de gueto em gueto mas conseguiu nunca ser deportado para um campo de concentração.” O que diz este homem sobre a subida da extrema-direita na sua região? “É gente séria, é uma coisa boa. Para mim, os melhores políticos estão na AfD da Turingia e em Israel, no Likud do Benjamin Netanhyahu.” Não o incomoda a associação da AfD aos neonazis e ao antissemitismo? “Eles são contra qualquer forma de socialismo, como eu sou. Os nazis eram nacional-socialistas. Então eles também são contra os nazis, por mais que os meios de comunicação social digam o contrário.”

Peter Hagen, repórter no principal jornal desta região, o Osthuringer Zeitung, acredita que a AfD continuará a crescer até formar governo. “Só aí se inverterá a tendência, porque eles captam um eleitorado revoltado com críticas duras, mas nunca foram testados no poder, nunca tiveram de resolver problemas.” Além dessa parte da culpa, Hagen critica os partidos por continuarem a não saber falar com as pessoas. “O Leste da Alemanha tem problemas gravíssimos que são ignorados. As pessoas que vivem aqui não votam em extremistas por acreditarem no extremismo. Fazem-no porque precisam de restaurar a sua própria dignidade. Têm o orgulho ferido.”

O município de Topen, que alberga a parte ocidental de Modlareuth, cresceu exemplarmente depois da queda do muro. “Até aí nós éramos o fim da estrada, ninguém passava por cá a menos que fizesse deste o seu destino”, diz Klaus Grunzner, burgomestre da aldeia pela CSU (o parente bávaro da CDU de Angela Merkel). George Bush pai foi um dos poucos visitantes que ali chegaram – em 1983, quando era vice-presidente de Ronald Reagan, visitou Modlareuth. Mas esta era paisagem era dominada pela atividade agrícola e militar, as tropas norte-americanas vigiavam a fronteira e raras vezes os alemães se aproximavam.
Nos últimos 30 anos, tudo mudou. Os campos em redor de Topen estão hoje tomadas por grandes torres eólicas – o grupo americano General Electric instalou aqui três explorações de energia, ou quintas de vento. Mas a coqueluche industrial de Topen é a Dennree, a maior produtora de alimentação biológica da Europa. A aldeia acolhe a sede da empresa, que dá emprego a 1100 trabalhadores. Topen tem 900 habitantes.

Quando se passa para o outro lado da fronteira, a história é absolutamente a oposta. Nos anos em que pertenceu à RDA, Gefell, a comuna a que pertence a parte leste de Modlareuth, era um dos pontos fundamentais de produção têxtil para o bloco soviético. “As fábricas de tecidos davam empregos a centenas de pessoas, lembro-me de como Gefell fervilhava quando eu era criança”, diz Marcel Zapf, burgomestre do município na antiga RDA, que tem 36 anos e por isso tinha seis quando o muro ruiu. “Mas nos anos 1990 fechou tudo, as pessoas começaram a partir para o Oeste à procura de emprego e muitos nunca mais voltaram.”
A empresa mais conhecida de Gefell chama-se Microtech, é uma fábrica especializada em microfones de alta qualidade que foi nacionalizada durante os anos de socialismo e depois foi recuperada pelos filhos dos antigos gerentes. Graças à vizinha Topen, a taxa de desemprego é baixa – 4,5 por cento, com uma boa parte da população a deslocar-se diariamente para a Baviera. Segundo um estudo do Instituto de Ciências Económicas e Sociais alemão, publicado no inicio de outubro, os salários são 16,9 por cento mais altos na antiga RFA, mesmo no caso em que os trabalhadores têm o mesmo género, ocupação e experiência.

As diferenças são físicas, também. Se as viagens pelas estradas de Topen correm suaves, em Gefell somam-se solavancos. Se a primeira imagem com que alguém se depara à entrada da aldeia bávara é um parque industrial movimentado, na povoação da Turíngia é um conjunto de Plattenbauten abandonados. É esse o nome dado aos prédios de cimento, pré-fabricados e inspirados na arquitetura soviética, que serviram como residências para militares e empregados têxteis. Hoje estão vazios, mas marcados com autocolantes e grafitti agressivos, a lembrar que aquela é terra alemã e será defendida, se necessário, à custa de armas.

“Em 30 anos desenvolvemos muita coisa, claro que sim”, diz o autarca de Gefell, “mas temos tanto em que ficámos para trás.” Marcel Zapf foi eleito por uma coligação local de independentes, mas sabe que a extrema-direita está a crescer na sua terra – e que a semente do discurso radical está precisamente nas diferenças entre os dois lados de uma fronteira que já não existe, mas existe. Dá um exemplo: o orçamento autárquico. Gefell tem 2500 habitantes, conta com um orçamento annual de 3,5 milhões de euros. Topen recebe o mesmo valor para 900 habitantes. “E aquilo que nós precisamos urgentemente é de construir infraestruturas básicas, para que chegue a indústria, o turismo e o desenvolvimento.” Entre uma aldeia e outra contam-se seis quilómetros. Mas meia dúzia de quilómetros são suficientes para ver duas Alemanhas inteiras.

Numa coisa Zapf e Krugner, os burgomestres das duas comunas em que está inserida Modlareuth, concordam: há um novo medo a crescer na região. “A extrema-direita assusta, está a criar um novo muro invisível que não podemos tolerar”, diz o autarca de Topen. O de Gefell anui, “aquilo que sinto é que as pessoas estão a perder a vergonha de falar de coisas que eram socialmente inaceitáveis.” A intolerância cresce, explicam. Mas a intolerância para com os intolerantes também.
Quando se chega a Modlareuth, não é difícil perceber que há uma campanha eleitoral em curso. Cartazes das principais formações políticas enchem os postes da aldeola, mas há um facto que salta imediatamente à vista: todos os posters da AfD foram vandalizados. “Não pode haver diálogo com esta gente”, concordam os dois burgomestres, que vieram hoje à pequena aldeia que esteve dividida 40 anos dizer que estão unidos. “Somos ambos conservadores, mas mais facilmente trabalharemos com o Die Linke, que está no oposto das nossas convicções, do que com a extrema-direita”, diz Marcel.

Dick Manfred, um físico que vive em Gefell, não tem assim tanta certeza que a rejeição do diálogo seja a melhor solução para lidar com a AfD. “Oh sim, eu tenho cada vez mais vizinhos a falarem sem pudor de coisas que há 30 anos ninguém ousava dizer. O racismo, a xenofobia e o insulto ganharam um espaço que eu nunca tinha concebido. Mas acredito que a única maneira de travar este movimento é ouvir as preocupações das pessoas e responder-lhes com factos. Não perceber porque há tanta gente revoltada só serve para enfiar a cabeça na areia.”
Manfred tem 63 anos, trabalha no desenvolvimento de lasers ópticos para operar pessoas com miopia. “Para viver aqui, eu tenho de fazer o sacrifício de percorrer 160 quilómetros por dia até ao trabalho. Foi a única maneira de manter a minha ocupação. Mas a maioria das pessoas não pode fazer isso. Ou saíram definitivamente da Turíngia, ou aceitaram trabalhos inferiores, o que lhes causa grande mágoa.”

Quando vivia na RDA, era cientista de ponta e trabalhava num centro de investigação, que foi fechado poucos dias depois da queda do muro. “As pessoas aqui acham que não houve uma verdadeira reunificação, antes uma anexação de uma parte pela outra.” Sem emprego, teve de se mudar para a Alemanha Ocidental, durante cinco anos trabalhou em Munique, a 300 quilómetros. “Depois decidi voltar às origens, mas não sem sacrifício pessoal. Percorrer todos os dias uma distância enorme é a única forma de fazer o que gosto e aquilo em que sou bom.” 
Quase todos os cientistas com quem Manfred trabalhava estão hoje empregados em áreas que nada têm a ver com a sua formação: tornaram-se vendedores de seguros, funcionários municipais, até homens do lixo. “Há muita gente que ficou com a vida estragada depois da queda do muro. E parece que é quase proibido falar disso, que não se pode por em causa a benevolência da unificação das duas Alemanhas. Então as pessoas vão acumulando a sua frustração, sentem que ninguém as entende, afastam-se da política.”

Quando um dia aparece um partido a vociferar que as políticas falharam, que os políticos ignoraram as populações, que se oferecem mais vantagens aos forasteiros do que aos que sempre ali estiveram, os vizinhos de Dick Manfred sentem que encontraram finalmente alguém que os ouve e defende. “Mesmo que façam promessas irrealistas, mesmo que argumentem com críticas injustas, as pessoas sentem que agora têm uma voz.”

Um muro é um muro – e a historiadora Susan Burger, que trabalha no Museu Alemão-Alemão, não acredita que aquele que se levantou em Modlareuth seja igual à parede de intolerância que a extrema-direita ergue agora invisível. “Antes havia uma cortina de ferro entre dois modelos sociais opostos. Hoje, são sobretudo os derrotados da unificação, aqueles que perderam de alguma forma posição com a queda do muro, que defendem a AfD.”
Quando os visitantes chegam ao museu a primeira coisa a que assistem é a um filme de 18 minutos que conta a história da divisão de Modlareuth. A maioria sai do auditório com os olhos rasos de lágrimas, mas às vezes Susan ouve alguém dizer que o muro nunca devia ter caído e arrepia-se. “Fico francamente triste, porque sinto que as pessoas esquecem, ou preferem ignorar, o que significa viver com medo. Eu posso ter apenas 34 anos, mas tudo o que me lembro da minha infância era desse receio que se entranhava nas pessoas.”

Conta que o seu jardim de infância, numa aldeia contígua a Modlareuth, tinha uma vedação no recreio – e que um dia ela e outros miúdos decidiram escavar um buraco na terra para apanhar amoras do outro lado. “Quando os educadores perceberam o que tínhamos feito, ficaram histéricos e puseram-nos de castigo, a partir daí deixámos de poder brincar no pátio.” Hoje percebe que os adultos temiam represálias, mas aquela história fê-la entender muito pequena o que era a privação de liberdade.
“Nas visitas que fazemos no museu não demonizamos a RDA nem a RFA, simplesmente explicamos a violência que aquele muro provocava.” Modlareuth tem salas de exposições com vídeos e fotografias do tempo que ficou lá atrás. Mas o que realmente impressiona é o que foi deixado ao ar livre. Um tanque para controlar a população, duas torres de vigia para que ninguém ousasse aproximar-se da parede e depois aquele muro de cimento, com três metros de altura e pintado de branco, com um tupo de canalização no topo para dificultar a sua passagem.

“Ao início a vigilância não era assim tão apertada”, conta Susan. O ribeiro de Tannbach servia de separador, mas logo depois da fundação da República Democrática Alemã, em 1949, a fronteira passou a ser vigiada e em 1952 construíram-se cercas de madeira. O cimento chegou em 1966 e daí até à sua ruína, em 1989, as medidas de segurança foram reforçadas com campos de minas, vedações de ferro impossíveis de trepar, arame eletrificado num perímetro de 500 metros.
“O lado leste estava muito mais vigiado, até porque nos primeiros anos da separação centenas de milhares de pessoas tinham fugido para a RFA. Mas as consequências afetavam igualmente os dois lados.” Susan dá o exemplo de dois irmãos que viviam na aldeia, as casas não distavam mais de 100 metros uma da outra, mas no meio havia o mais espesso dos sinais da Guerra Fria. “Todos os dias, ao final da tarde, eles subiam ao telhado e acenavam com um lenço. Se fosse branco, estava tudo bem. Se fosse de outra cor, o irmão que morava no ocidente tinha de ligar ao meio dia do domingo seguinte para um posto telefónico a 50 quilómetros de Modlareuth, que era onde ele podia atender a chamada. E o outro irmão arranjava maneira de lá ir. Se não fosse de carro, ia de carroça ou de bicicleta.”

Uma carta de um lado a outro da aldeia nunca demorava menos de seis semanas a chegar. Até final dos anos 1970, era frequente encontrar os moradores dos dois lados perto do muro ao fim da jorna de trabalho, e gritavam para se cumprimentarem. Depois, até isso foi proibido – não se podia estabelecer qualquer comunicação. Os habitantes do lado leste viviam por isso em quase total isolamento. Até os alemães da RDA precisavam de documentação especial para poderem chegar tão perto da fronteira.
É desses dias em que uma aldeia se viu cercada de arame farpado que ninguém se esquece. O caso de Modlareuth é tão específico que inspirou uma série de televisão alemã com bastante sucesso, chamada Tannbach. Foi filmada na República Checa e as personagens são fictícias, mas os habitantes da aldeia têm orgulho que a sua história continue a ser recordada – e que o país se lembre que houve outro muro que não em Berlim.
A grande parede que separou duas Alemanhas ruiu há 30 anos. Trouxe a liberdade, aquilo a que um padeiro da aldeia chama “o maior espetáculo do mundo”. Os habitantes daqui ainda não têm a certeza se são todos alemães por igual. Mas, como diz uma mulher de 72 anos chamada Karin Mergner, que passou aqui toda a sua vida, “a exclusão nunca trouxe nada de bom à História.” Um muro é um muro – e é sempre um pesadelo. 


Por: Ricardo J. Rodrigues


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