quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Nuno Baltazar: “Sou muito mais uma parede descascada do que um palácio”










É sensação antiga, a de que cada peça criada por Nuno Baltazar devia vir com bilhete na pata, pombo-correio com a mensagem de amor, generosidade e delicadeza que o criativo que recusa o termo criador coloca em cada detalhe de cada coleção. Um cartão com uma poção de contágio de beleza pela palavra. Mas é como ensina o Principezinho, “o essencial é invisível aos olhos”. E talvez as criações dele só possam mesmo ser entendidas e vestidas com o coração. Nuno Tiago, nome de código para família e amigos antigos, é o designer de moda português que mais trabalhou a emoção na construção das coleções.



É assim desde o início, desde o tempo em que a sua hipersensibilidade era injustamente confundida com melodrama, e o carimbo o tornava inseguro. Mas ele anda nisto da moda de autor há 20 anos, desenhou trinta coleções em nome próprio e, há três anos, quando abriu a porta para a década dos 40, decidiu virar a vida do avesso. Reencontrou o seu novo lugar no mapa, física e figuradamente – da Boavista para o Bolhão, do palácio para o rés-do-chão, do acessório para o essencial –, e assumiu, agora sem medo, a sua voz. E há nela uma revolução. Íntima. A revolução de ser sensível, de ser verdade, de ser pele. De ser futuro e ser simples. Pode a biografia de um designer de moda estar inscrita em camadas de tecido? E arrepiar tanto como um fado de Amália?
Há quem considere Nuno Baltazar “o homem mais bonito do Porto”, ele que nem sequer nasceu na cidade, que não gosta de ser “confundido com um homem do Norte” e que, apesar de ter saído de Lisboa com apenas três anos, sempre que pode, ergue a sua bandeira alfacinha. “A minha relação com o Porto parece um casamento antigo”, revela e não ri. “É uma relação de saturação em muitas circunstâncias. A cidade tem características com as quais não me identifico. A maioria das pessoas tem um comportamento que oscila entre o presidente do clube de futebol e o líder da claque. É um comportamento de cegueira que não conduz a outra coisa se não à falta de autocrítica e, portanto, à estagnação. E isso asfixia-me bastante.”

O diagnóstico da relação é apresentado a frio e de rajada, mas poderá não estar totalmente atualizado. “Depois de um certo tempo”, concede, “o amadurecimento fez com que desse outra importância às coisas e pensasse: ‘Se calhar gosto mais dela do que pensava'”. É dúvida que mantém, apesar de tudo.
Aquilo de que não duvida é que a cidade se reinventou. “O Porto evoluiu muito. E essa evolução era fundamental para que pudesse apaixonar-me. Até há pouco tempo não havia política cultural. E a cultura é aquilo que nos permite viajar sem sair do sítio. É o que nos amplia os horizontes, o que nos abre a cabeça para outras realidades. O Porto só começou a ter uma dinâmica diferente e a reeducar-se enquanto cidade há cinco anos.” A cultura é, pois, a base da criação. Da sua, pelo menos. Daquela que o move, comove e em que acredita. Toda a sua história criativa é um caleidoscópio de histórias outras, de filmes, peças teatrais, performances, instalações, coreografias, óperas, sinfonias e literatura.
É, aliás, muito fácil tropeçar nele em qualquer equipamento ou manifestação cultural. “Um criativo”, justifica, “tem, antes de tudo, de construir um universo pessoal riquíssimo. Tem de ler, tem de ver espetáculos, tem de ir ao teatro e ao cinema, tem de ler romances e poesia, tem de andar na rua e olhar para as pessoas. Se não houver isso, essa curiosidade, essa avidez de absorção, pode espremer-se o que se quiser, mas não vai sair nada”. Ele espreme e sai poesia visual e tátil. Há sempre qualquer coisa de trágico e de belo, de orvalho e de frágil, de melancólico e de silêncio que amordaça o ruído do Mundo nas suas coleções.
Volta a ser assim em “Displaced”, a coleção #30, que constitui a proposta para esta estação. É a coleção com que em março se despediu, com estrondo, do Portugal Fashion. As grades que cercavam a passarela no Edifício da Alfândega, no Porto, na encenação do seu derradeiro desfile, até poderiam parecer um prenúncio do espartilho que ali e há muito sentia. Mas não. A razão é mais funda e menos egocêntrica. “Displaced” (“Deslocados”) parte da instalação performativa que o dramaturgo Brett Bailey, que há mais de dez anos trabalha sobre a questão dos refugiados, dos imigrantes e da xenofobia, apresentara noPalácio dos CTT, também no Porto. “A instalação chama-se ‘Sanctuary’ e recria a experiência que um refugiado tem quando chega à Europa. É uma coisa muito densa, até porque entre labirintos e grades, percebe-se que eles não são figurantes, são mesmo refugiados. Tem uma carga emocional gigantesca.”

Este grau de perturbação é quase sempre o detonador da sua inspiração, que depois há de cerzir ao seu momento individual presente. “Esta coleção tem a ver com pessoas que, a dada altura, perdem a coisa mais importante da sua vida, que é o seu lugar. O lugar onde vivem, onde trabalham ou onde amam. Vestem-se à pressa, misturam tudo, porque o mais importante é lutar e existir e procurar um lugar.” É sobre refugiados. É sobre ele. Não é sobre nós?
“Essa perda de lugar estava a acontecer comigo a vários níveis, profissional e amoroso. Deixei de me identificar com aquele que era o meu espaço.” Nuno Baltazar viveu, estudou e trabalhou na Boavista desde sempre. Foi ali, em plena Avenida, que frequentou o Colégio dos Maristas, quando era miúdo; foi ali, no Citex, Centro de Formação Profissional do Têxtil e do Vestuário (agora rebatizado Modatex), de janelas voltadas para os jardins de Serralves, que na década de 1990 se fez designer de moda; foi ali que fixou a morada de casa e dos seus três sucessivos ateliês. Mas nem é – ou não é só – essa geografia palpável aquela a que se refere. É um lugar interior. “Acabara de fazer 40 anos. Sempre fiz aniversários a perspetivar o futuro. Mas quando cheguei ali dei por mim a olhar para trás, a pensar como é que aos 30 imaginava que seria aos 40. E percebi que muita coisa estava errada. Que não estava confortável com aquele marasmo. Que era preciso mudar.” E mudou. Em primeiro lugar, de território físico.
Trocou o palacete do século XIX, no número 856 da Avenida da Boavista, onde em 2005 inaugurara a sua loja-ateliê, por uma antiga loja de produtos elétricos, no número 37 da Rua do Bolhão, na Baixa. À primeira vista, poderá parecer um choque térmico, mas é um impacto cheio de significado. “Era um lugar feio e escuro, mas com imenso potencial. Quis descascá-lo e recriá-lo. É um espaço mais urbano e menos impositivo. E é imperfeito. E eu gosto da imperfeição.” A loja, 140 metros quadrados e paredes que dançam entre a nudez e as manchas da sua existência, foi inaugurada em julho do ano passado. Fica a meia dúzia de passos da loja de Luís Buchinho, amigo e criador também formado no Citex – o Citex é o berço de uma geração inteira de criadores do Porto –, o que o faz alimentar o sonho de ver aquele quarteirão transformado num bairro de moda nacional.
É hoje o seu melhor bilhete de identidade. “Sou muito mais isto, sou muito mais uma parede descascada do que um palácio forrado a papel de parede.” Os 40 anos trouxeram-lhe ainda outra mudança territorial, mental. “Sempre tive vergonha de falar sobre as minhas emoções, porque durante alguma parte do meu percurso era considerado o dramático da moda portuguesa. No sentido pejorativo, acho. Olhavam para mim, quando escolhia uma banda sonora ou quando optava por fazer um desfile com alguém a dizer poesia, e sentia que pensavam: ‘Ai, lá vem este outra vez’. Isso fez com que sempre tivesse algum sentimento de inferioridade. Depois, percebi que tenho uma voz, que tenho alguma coisa que quero dizer.” Em certo sentido, ele é um contador de histórias. Nunca desenha coleções “porque sim”, desenha coleções “porque sente”. E é, também por isso, que todas as peças de todas as coleções deviam conter uma espécie de diário de bordo. Boneca russa, todas guardam uma história dentro da história. E nessas histórias ocultas, que ora vai “mostrando e tapando”, ora vai “descobrindo e encobrindo”, há sempre mulheres. Mulheres-poema. Elas são o cadeado e a chave.

Nuno Baltazar, único rapaz no meio de três irmãs – elas tratam-no como mascote, ele trata-as como princesas, são quatro e não vivem uns sem os outros – , é talvez o homem que mais genuína e intensamente ama várias mulheres ao mesmo tempo, sem que esse amor se abeire sequer vagamente da traição. “Há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente”, escreveu Álvaro de Campos, um dos seus poetas.
As mulheres, as deusas diante das quais se ajoelha são tantas. São Amália Rodrigues, do fado e da “doce loucura” e da “noite mais escura”; Sophia de Mello Breyner, do “mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim”; Frida Kahlo, da coragem política e da superação das trevas do corpo; Marguerite Duras, da fragmentação da memória dos amantes; Paula Rego, da solidão e do desespero, da frustração e do desejo, da liberdade e do encarceramento, da infância atravessada pela maturidade pintada em figuras ambíguas, meio-humanas, meio-animais, meio-bonecos, meio coisas que só ela saberá; Virginia Woolf, do imortal e mutável Orlando e da vida interrompida; Elsa Schiaparelli, italiana do vestido lagosta; Jessye Norman, soprano dramática que morreu no último dia do último setembro; Karen Blixen, a baronesa dinamarquesa de “África Minha”; Iris Ipfel, icónica nonagenária dos lábios vermelhos; Maria Callas, divina grega da ópera; Edith Piaf, francesa da “chanson” e da vida rosa; Silvia Plath, da vida de vidro e da poesia contra a depressão; Jessica Lange, do corrosivo “American Horror Story”; ou Meryl Streep, que há dois anos, homenageada na 74.ª edição dos Golden Globe Awards, em Los Angeles, subiu ao palco e foi quase como se lhe soprasse ao ouvido: “Pega no teu coração destroçado e faz arte com ele”.

Todas estas mulheres já fizeram, de uma forma ou de outra, parte das suas coleções, quase todas com nomes de filmes ou livros ou canções. Parecem todas divas, estas mulheres, mas são todas, “sobretudo, um bocadinho desequilibradas”. “Esse desequilíbrio é fascinante”, diz. “Na verdade, em todas estas mulheres, procuro sempre a minha mãe. É isso que quero quando tento decifrar a cabeça delas. É essa ligação que me faz procurar mulheres que não entendo muito bem.” A mãe de Nuno Baltazar, Elsa como a criadora dos vestidos surrealistas, Elsa como a personagem de Jessica Lange que o conduziu à coleção #25 batizada “Circus”, Elsa, a sua “diva do eyeliner”, faz anos amanhã.
É o amor maior da vida dele. E é ela quem melhor serve para explicar o triângulo que invariavelmente existe na génese e na apresentação de cada uma das suas coleções. Há sempre uma inspiração matricial, há sempre uma banda sonora original desenhada por Francisco Leal, e há as peças propriamente ditas. Ou, dito de outra forma, e pelo próprio: “Há sempre uma ligação muito forte entre uma inspiração e uma coleção, mas no meio estou eu. É essa ligação com um momento qualquer da minha vida, que é sempre muito pessoal, que define o que quero comunicar”.
Naquele ano, ele “estava a trabalhar sobre a dor” de ter a mãe a atravessar um cancro da mama. “Foi muito intenso. Acompanhei-a sempre. Ela nunca entrou sozinha no IPO, nunca entrou sozinha sequer em algum tratamento. Passar por um momento daqueles é uma coisa que nos esvazia. Mas, no meio disso, tinha de desenhar uma coleção. E sabia que a única coisa que tinha dentro de mim era aquilo que a minha mãe e eu estávamos a viver. Então, houve um dia em que cheguei a casa e ouvi o ‘Stabat Mater’ de Vivaldi pelo Andreas Scholl e percebi: é este o momento.” O momento para quê? O momento para resgatar aquele dia, há 15 anos, em que pela primeira vez ouviu, no Mosteiro dos Jerónimos, o “Stabat Mater”, um dos hinos mais significativos que se enquadra no contexto da paixão ao exprimir as dores de Maria, e que na verdade significa “Mãe Dolorosa”. “Quando ouvi aquilo tive a certeza que um dia saltaria do meu baú para uma coleção. Seria num dia em que fizesse sentido.” Seria no inverno 2016/2017, a estação em que a mãe Elsa ficou curada.
Essa ligação entre um momento pessoal, uma banda sonora e uma inspiração vertida em coleção pode acercar-se dele de outras maneiras, mas nunca sem ser pelo coração. “No fim de uma relação muito longa, que tinha sido muito importante para mim, disse ao Francisco Leal: ‘No desfile, quero ouvir o som de um comboio a partir.’ E quando disse aquilo lembrei-me imediatamente do filme ‘The Sheltering Sky’ [‘Um Chá no Deserto’], de Bernardo Bertolucci, e daquele momento em que Kit Moresby, a personagem feminina, diz: ‘We’re not tourists. We’re travelers.’ [‘Nós não somos turistas, somos viajantes’].” “Travelers”, a coleção #10 que vestiu a primavera-verão de 2009, era sobre isso, “sobre partir sem saber quando vamos voltar”.
É esta viagem aos bastidores, às entranhas de Nuno Baltazar, que verdadeiramente o distingue no panorama da moda nacional. Mesmo que muito do que faz pareça invisível a olho nu. “Todos os detalhes de cada coleção são pensados, são propositados. Mesmo que depois as pessoas não se apercebam desses pequenos pormenores, é a soma de todos esses detalhes que faz com que aquilo passe com verdade.” É por isso que os seus desfiles são sempre momentos particularmente emotivos. Porque não é só roupa, é arte. Ou, como escreveu Pierre Bergé a Yves Saint-Laurent, casal a quem dedicou o verão de 2013, na coleção #18 intitulada, tal como o livro, “L’Amour Fou” [“O Amor Louco”]. “A moda não é arte, mas é preciso ser artista para a fazer”, cita, contando como essa frase o pacificou. “Sempre me senti artista, mas nunca considerei aquilo que faço arte. E esta é a melhor definição que encontrei para isto que fazemos. Para fazer moda de autor, é preciso ter coração de artista. Caso contrário, não se chega lá.”

Nuno Baltazar desenha essencialmente, mas não exclusivamente, para mulheres. E a mulher portuguesa, tal como a moda nacional de autor – que evoluiu “na conceção, no rigor, no profissionalismo, na oferta”, mas que ele define sobretudo como “lúcida” – , mudou muito nos últimos 20 anos. “É uma mulher muito mais confiante, mais independente, mais segura, mais cuidada, e isso reflete-se na forma como se veste.” Mas a mulher que usa a etiqueta NB é mais do que isso. “A minha mulher é a mulher do poema de Sophia, o mar sonoro, o mar sem fundo, o mar sem fim. É transparente num dia, absolutamente profunda no outro, calma, revolta, tempestuosa, romântica, carnal. Tem imensas camadas, umas mais acentuadas do que outras, que vai revelando à medida que o tempo vai passando. E tem muitos picos. Pode ser quase desequilibrada, no bom sentido. Porque o equilíbrio é coisa que me irrita.”
A mulher NB não tem idade nem estilo estanque. “Há mulheres de idades completamente diferentes a comprar a mesma peça de roupa e a usá-la de maneiras completamente diferentes. E é isso que me dá prazer: pensar que a minha roupa é o guarda-roupa para personagens reais, que depois vão compor os seus figurinos conjugando as minhas peças com outras que herdaram ou compraram noutro sítio qualquer, e assim criar a sua própria história.”

Duas décadas foram um sopro na vida de quem tudo aconteceu muito cedo. Mas Nuno Baltazar, que se lançou na moda em 1998, “de forma apaixonada e completamente inconsciente”, que durante os primeiros cinco anos do percurso profissional assinou com o colega de curso e amigo-irmão Paulo Cravo 12 coleções, que venceu vários concursos (1995, 1996, 1997), Fashion Awards (2011) e Globos de Ouro (2013), que veste assiduamente inúmeras figuras públicas, desde a apresentadora e atriz Catarina Furtado à maestrina Joana Carneiro, que foi agraciado com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique quando tinha apenas 39 anos, completou 20 anos de carreira e não celebrou. “Foi em abril deste ano, tinha acabado de bater com a porta ao Portugal Fashion, foi uma fase complicada. Além disso, não ficaria confortável a colocar-me em bicos de pés, celebrando o meu próprio trabalho.”
A sua saída do Portugal Fashion, em março, ao contrário do que acontecera quando decidiu abandonar a Moda Lisboa, foi amplamente noticiada. “Cansei-me de esperar pela oportunidade de um projeto internacional.” O criador sensível não se cala, não se curva, pode rasgar-se por dentro, mas dá o corpo às balas. E, no rescaldo de apresentar “Displaced”, anunciou o desfecho na página pessoal de Facebook. “Saio, bato com a porta, digo um enorme não a esta direção do Portugal Fashion. Digo abertamente que o que ali se faz não dignifica, não eleva e não potencia o trabalho árduo dos criadores portugueses. Potencia apenas o nome da plataforma e a vaidade e o deslumbramento de quem a dirige.”
É um murro, mas um murro carregado de “tristeza por ter de tomar uma tão difícil decisão” num país em que “a falta de união dos designers portugueses” é a sua “maior fraqueza”. A celebração haverá de existir, provavelmente quando as obras do Museu do Design e da Moda (Mude), em Lisboa, ao qual doou parte significativa do seu espólio, estiverem concluídas. Essa exposição antológica “faz parte do acordo de doação, a pedido do Museu”. Outras peças foram doadas ao Museu do Traje, ao Museu de Chapelaria e ao Museu dos Sapatos. Só guardou o que fez com Paulo Cravo. “Porque foi o princípio de tudo.”
Nuno Baltazar tem 43 anos e “Tatuagem” tatuada no braço, canção de Chico, nome de coleção, está vestido por ele próprio no dia em que recebe a “Notícias Magazine”, roupa escura, corte simples. São já três coleções seguidas para homem, “porque parece fácil mas é difícil encontrar” o que gosta de vestir. Fora isso, se pudesse, andava nu. “O luxo absoluto é chinelo no pé, calção curto e andar três semanas de verão com a mesma t-shirt até que ela se segure sozinha cheia de sal.” Isso e a peça anual que se oferece de Dries Van Noten, o seu criador de eleição.



Texto de Helena Teixeira da Silva

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