"Sabe porque é que os loucos foram desaparecendo das aldeias", perguntou-me a determinada altura o diretor do hospital de Bragança. "Porque a doutora Elisa os tratou."
Elisa Vieira é há 24 anos a única pedopsiquiatra deste distrito transmontano. Ao seu consultório desaguam por ano 1200 problemas da infância - é esse o número de consultas que ela atende.
Vêm miúdos hiperativos e vêm miúdos que se tentam suicidar, vêm vítimas de abusos sexuais e vêm recém-nascidos com dependência de heroína. Sozinha, a doutora Elisa desdobra-se para resolver a inquietação da canalha toda.
No final do ano meteu os papéis para a reforma. Tem afinal 68 anos, ainda por cima está prestes a ser avó, já não pode continuar a adiar o inevitável. Mas o problema é que não há ninguém para substituí-la.
Na última década abriram seis concursos para pedopsiquiatras em Bragança. Ninguém concorreu. Então, mesmo que não lhe possa ser imputada qualquer culpa, a doutora Elisa está cheia de problemas de consciência.
É que agora as crianças terão de ser seguidas a partir do Porto, e ela sabe que para muitas famílias são três horas de estrada para cada lado e uma despesa que não podem sequer pagar.
Há 170 pedopsiquiatras no SNS. Mas, além de Bragança, os distritos da Guarda, Portalegre e Évora não têm qualquer profissional ao seu serviço. Em Castelo Branco há apenas um, outro em Beja, e outro em Faro. Metade do território está sem cuidados de saúde mental infantil.
por Ricardo J. Rodrigues
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